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Neiva Alves Ribeiro

Psicóloga Clínica Especialista Em Teoria Cognitivo Comportamental

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ALIMENTO E AFETO
A questão alimentar sempre chamou muito minha atenção, principalmente por ser originária de uma família de obesos e desde tenra idade acompanhar o sofrimento destes familiares quando acometidos pela compulsão alimentar. A bem da verdade, a comida tem um papel importante nas nossas vidas, ela nos nutre, nos dá ânimo para viver e enfrentar nossas batalhas e aqui cabe uma ressalva ela não nos faz feliz, voltaremos a falar do fato da mistificação entre alimento e felicidade.

A questão alimentar sempre chamou muito minha atenção, principalmente por ser originária de uma família de obesos e desde tenra idade acompanhar o sofrimento destes familiares quando acometidos pela compulsão alimentar. A bem da verdade, a comida tem um papel importante nas nossas vidas, ela nos nutre, nos dá ânimo para viver e enfrentar nossas batalhas e aqui cabe uma ressalva ela não nos faz feliz, voltaremos a falar do fato da mistificação entre alimento e felicidade.

Quando nascemos, a primeira coisa que fazemos é respirar e o passo seguinte é comer, ou seja, tomar aquele leite quentinho, que vai nos fazer ficar saciados e tranquilos e neste contexto de comer, dormir e estar sequinho, vivemos nossos primeiros meses, sendo neste momento o papel da mãe fundamental para fazer a distinção das necessidades de ser atendido e nutrido.

Ora, uma mãe tranquila aprende com relativa facilidade sobre o choro do seu bebê, fazendo a distinção do choro de fome, sede, desconforto por dor, calor, ou estar molhado. Já uma mãe que se angustia diante do choro do seu filho, pode oferecer comida, quando ele apenas está expressando suas necessidades.

Então o bebe do alto da sua sabedoria infantil aprende com as informações e atitudes da sua mãe, ou seja, se a mãe lhe oferece comida para supri-lo em suas necessidades que nem sempre são de fome, ele bebê talvez fixe a ideia que o alimento está aí para suprir qualquer necessidade. Ainda soma-se ao fato que o bebe para ser alimentado terá que ser tocado e posto no colo, o que ele possivelmente registre, ser acariciado, ter atenção, sentir-se confortável é comendo, e talvez ele conclua que precise comer para ter amor e atenção, ou ainda, que a comida dá a sensação de plenitude.

Nos diz Beck, 2009.” É possível que você também se acalme com a comida porque não gosta de se sentir aflito ou entediado. A comida pode, de fato, ser uma distração eficaz-temporariamente. Mas comer não resolve o problema original que o levou a se afligir. Na realidade, comer por motivos emocionais cria um outro problema: você se sente mal porque saiu da sua dieta.”

As emoções quando não expressas, a insensibilidade das mesmas, terão consequências físicas, provocando, inclusive, alterações na forma de pensar do indivíduo. Estas manifestações são expressões que afetam o nosso corpo como um todo. Um susto estimula a produção de adrenalina, uma alegria às vezes produz lágrimas, um momento de ansiedade pode acelerar a pulsação cardíaca e, assim, o físico vai refletindo as alterações vívidas por nossas emoções.

Neste contexto, a suposta “fome por alimentos é preenchida”, porém a fome de ser amado, desejado, atendido em suas necessidades e, mais ainda, alguém que lá atrás não o ensinou a identificar as necessidades oriundas das suas emoções e sensações, continuam de forma obscura a determinar, hoje ainda, enganos na existência.

Podemos falar que o sistema nervoso de alguém que tem fome de sensações sofre e enfraquece podendo levar o indivíduo a fazer coisas que ele não queira, só para sair da monotonia e provocar mudanças no contexto.

À medida que vamos crescendo, as necessidades se modificam, se outrora precisávamos de alguém para nos ensinar a distinguir o que sentíamos, à medida que crescemos, sem saber fazer esta identificação e diante da necessidade por reconhecimento, por ser notado, ou mesmo, que lhe digam sobre suas qualidades e importância, estará o indivíduo diante da impossibilidade para fazer por si mesmo estas distinções, precisando desta forma que o outro o qualifique. Sem estes reconhecimentos, que não sabe fazer de si mesmo, os registros negativos se fazem na cabeça do indivíduo, que repete a busca pelo que ele não conhece e o velho refrão pode ser repetido. Vou Comer.

Percebe-se a importância do papel da mãe no desenvolvimento infantil, com uma das tarefas, dentre tantas outras, de nutrir física e emocionalmente o pequeno ser e mais ainda fornecer um contexto onde ele indivíduo, possa aprender a lidar com suas necessidades básicas e distingui-la, desta forma, separando a fome física da fome emocional.

Por outro lado, este indivíduo, quando cresce sendo apoiado e orientado, nestas distinções, torna-se capaz para buscar de forma autônoma a satisfação dos seus desejos, sem equívocos. Quando isto, ou se isto não ocorre, ficam para trás, o que podemos chamar, metaforicamente de “pequenos nós, no desenvolvimento” que impedem, hoje ainda, a leitura de forma clara de suas reais necessidades, gerando a falta da autonomia para buscar e resolver seus entraves na vida, ligados à nutrição x afetos.

A história de vida do indivíduo inicia no momento do seu nascimento, e em torno dos seis anos esta história está editada, como as peças de um teatro, esta metáfora, na literatura chama-se Script, história de vida. Esta história é editada internamente e sem consciência pelo pequeno ser, que ao edita-la através do que viu, ouviu e sentiu, ou mesmo, foi ensinado por aqueles que participaram do seu desenvolvimento, torna-se forte e soberana, fazendo com que o indivíduo a siga cegamente até o final dos seus dias.

Em que pese, sem a expansão da consciência, e, sem a compreensão dos fatos e comportamentos que determinaram com que o ato de empanturrar-se fossem sentidos como capaz de provocar alívio das emoções que não foram atendidas, segue repetindo vida afora os ensinamentos que equivocadamente aprendeu como sendo provocadores do alivio para os desconfortos emocionais. Desta forma é aprisionado e fechado em suas próprias faltas, sem liberdade para pensar, ou fazer diferente.

Cury, 2004. “Sem liberdade o ser humano se deprime, se asfixia, perde o sentido existencial. Sem liberdade, ou ele se destrói ou destrói os outros. Por isso o sistema carcerário não funciona. A prisão exterior mutila o ser humano, não transforma a personalidade de um criminoso, não expande sua inteligência, não reedita as áreas do seu inconsciente que financiam o crime. Apenas imprime dor emocional. Eles precisam ser reeducados, conscientizados, tratados”.

Aquele que se destrói comendo, com a falta da consciência do que faz com o seu corpo, pode ser comparado ao ser privado de liberdade física, encarcerado nas emoções das quais não tem consciência e não tem permissão para distingui-la, ou senti-la. Ao agir assim está cometendo um abuso com o seu corpo, que necessita o amparo do reconhecimento de suas reais necessidades, sendo as mesmas, as únicas que irão possibilitar uma reeducação capaz de interromper o crime contra si mesmo.

Todo ser necessita ser acariciado para que sobreviva, desde os primeiros momentos de sua vida, até o derradeiro minuto final da existência, necessitamos ser tocados. Sabe-se que em casos extremados, principalmente com crianças que foram abandonadas em lares escolas se não forem tocadas, podem adoecer. Desta forma o estimulo, a carícia podem ser considerados importantes alimentos, capazes de trazer bem estar e qualidade de vida.

Temos que as carícias podem ser positivas ou negativas. Caricia positiva é aquela que recebemos e nos faz sentir plenos, são os elogios, os toques suaves, abraços, beijos, enfim. Já as carícias negativas são as que não fazem bem, são os gritos, o olhar de raiva, a falta de diálogo, muitas vezes, as pessoas acostumadas a receber estas últimas, adaptam-se à elas. Possivelmente, na infância, foram crianças que causavam situações, onde o seu reconhecimento se dava através do grito e de situações onde a raiva tornava-se o estimulo para provocar outra situação ainda mais constrangedora.

Alguém que durante a infância viveu numa casa, onde a comida era muito importante e quando chorou por dor ou desconforto, ao invés de ser acariciado, acolhido, lhe ofereceram doces, balas ou refrigerantes, aprendeu a repetir o estimulo que lhe ensinaram. O “comer” transformou-se num hábito, uma forma de resolver todas as situações da sua vida e mesmo engordando e se contrariando com isto, incorpora a sua personalidade a forma gorda de ser.

Tudo que está incorporado a personalidade do indivíduo, se torna mais difícil tratar, vai demandar muita determinação e coragem para modificar aspectos constituintes da sua personalidade. Soma-se ao fato que os “efeitos e sensações” provocados pela comida são poderosos na vida de um indivíduo, pois são eles os alimentos que ao mesmo tempo que mantém a vida, garantindo a sobrevivência, quando consumidos de forma incontrolável, ao contrário, podem ceifar a vida.

Desta forma, limpar o equívoco entre “comer para se manter vivo”, torna-se uma dobradinha que demanda uma certa engenhosidade para dissolver. Muitas vezes, o próprio corpo já dilatado pelo excesso de alimento, vai colaborar para manter a distância, física, do que poderia fazer sentido a sua existência e ao seu real alimento. Um longo e terno abraço costuma oferecer intensa nutrição, o que talvez pela deformidade do corpo não lhe possa chegar de forma a poder completar lhe.

Não raro a quantidade de gordura que os obesos carregam em seus corpos, está a serviço de “protege-los”, sem mesmo que saibam, dando a sensação de aninhá-los e oferecer suporte para a insatisfação e as necessidades por afagos, carícias e reconhecimentos não satisfeitos. Com frequência se pode escutar no relato de pessoas com mais de cem quilos, dizerem que o espelho está refletindo sua imagem de forma distorcida, ou mesmo a roupa que usam é que as engordam. Subestimam a dor, a vergonha e não aceitam a realidade que é sofrida e demanda expansão da consciência.

Sempre que temos um problema a saída é pensar uma solução, porém, que saídas são razoáveis para alguém que sofre por ter sua imagem corporal alterada pela gordura? Ou mesmo, que saídas pensar para alguém que às 6 horas da tarde trava uma batalha entre o impulso de comer e o desejo de parar de comer, sem conseguir dar fim à compulsão e comendo até o estomago não aguentar a dor, ou até porque, não raro, começa a vomitar.

Como foi dito no início, “a comida não nos faz feliz”, ela sacia, deixa nutrido, mas também quando em excesso, entope o coração, a mente, paramos de pensar e sentir. Na medida em que o peso do alimento se concentra no estômago, nada mais pode ser detectado, o ser como um todo, neste momento, pode ser comparado somente ao estômago, que passa a ter proporções gigantescas, demandando não só um fluxo de sangue ainda maior, como todo o ser estará voltado para a energia que é digerir quilos de comida, que estão em quantidades maiores do que o necessário para manter a vida.

Podemos recorrer a várias estratégias como solução do sofrimento, mudar hábitos, dietas, consultas à profissionais especializados, mas principalmente, mudança em crenças que não constroem a saúde psíquica e física, ou mesmo, não são favoráveis ao intento de deixar com que a comida seja o primordial. Não adianta fazer a mesma coisa, esperando um resultado diferente, existe um caminho que se interpõe, e, este caminho, muitas vezes pode estar calcado no sistema de carícias que usamos e não nos abastece, podendo ser a ciranda que está a nossa volta, “o jargão”, todos que conheço se comportam assim, faz parte da família, do meio ao qual convivo. Via de regra, carícia não é algo que se oferece, e muitas vezes se acredita que é feio oferecer carinho as pessoas, mesmo que o carinho seja um breve sorriso.


O toque, o acarinhar alguém, pode trazer sensação de bem estar, pode facilitar encontrar o alívio para o problema, ou mesmo acalmar para continuar na luta com a balança. Quando tiramos o foco do estomago e passamos para o peito, aprendemos a detectar o que estamos sentindo, e, desta forma nos permitimos buscar o verdadeiro alimento, a verdadeira realização.

Garcia, 2013. “Poderíamos pensar que um homem de fé, diante das dificuldades, continua caminhando e acredita que vai chegar a algum lugar. Sem alvo, porém, não existe caminho nem caminhante, não há fé que sustente uma jornada sem destino”. Com isto não nos referimos a fé da religião, mas sim, acreditar que podemos conhecer e resolver nossas necessidades, buscando os caminhos que a ciência oferece e que são muitos, porém, junto as respostas da ciência, concomitante, existe o caminho do coração e no ele pode auxiliar na demanda com a gordura.

Steiner,1974. Ele cita em uma de suas obras um conto que neste momento parece ser bastante ilustrativo.” Era uma vez, há muito tempo atrás, duas pessoas muito felizes, chamadas Tim e Maggie, com duas crianças chamadas John e Lucy. Para entender como eram felizes, você precisa entender como eram as coisas naquele tempo. Veja, naquele tempo, todo mundo, quando nascia, ganhava um macio e pequenino Saco de Carinhos. Sempre que uma pessoa punha a mão no saquinho, podia tirar um Carinho Quente. Carinhos Quentes eram muito exigidos porque sempre que alguém ganhava um Carinho Quente, este fazia a pessoa se sentir quente e aconchegada, cheia de carinho. As pessoas que não recebiam Carinhos Quentes viviam regularmente em perigo de pegar uma doença nas costas, que as fazia murchar e morrer.

Naquele tempo era muito fácil receber Carinhos Quentes. Sempre que alguém tinha vontade, podia chegar para a gente e dizer: “Eu gostaria de ter um Carinho Quente”. A gente então metia a mão na sacola e tirava um Carinho do tamanho da mão da garotinha. Assim que o carinho via a luz do dia, ele sorria e desabrochava num grande e felpudo Carinho Quente. A gente então o colocava na cabeça, no ombro ou no colo da pessoa e ele se desmanchava e se misturava com a pele, e a pessoa se sentia toda bem. As pessoas viviam pedindo Carinhos Quentes umas das outras, e já que eram dados de graça, nunca havia problema em conseguir Carinhos suficientes. Sempre havia de sobra e por causa disso todo mundo era feliz e se sentia quente e cheio de carinho durante a maior parte do tempo.

Um dia uma bruxa má ficou brava porque todo mundo era tão feliz e ninguém comprava poções e unguentos. A bruxa era muito esperta e inventou um plano muito malvado. Numa linda manhã a bruxa chegou perto de Tim enquanto Maggie estava brincando com a filha, e cochichou no ouvido dele. “Olhe, Tim, veja todos os carinhos que Maggie está dando para Lucy. Você sabe, se ela continuar assim. Vai acabar com eles e não sobrará nenhum para você. Tim ficou muito admirado. Virou-se para a bruxa e disse: “Você está querendo me dizer que não é sempre que existe um Carinho Quente na sacola”? E a bruxa disse: “Não, de jeito nenhum, e uma vez que eles acabem, não há mais. Você não ganha mais”. Dizendo isso, a bruxa foi embora voando numa vassoura, dando gargalhadas o tempo todo.

Tim levou isso a sério e começou a reparar sempre que Maggie dava um Carinho Quente para outra pessoa. Aos poucos foi ficando muito preocupado, porque gostava dos Carinhos Quentes de Maggie, e não queria desistir deles. Certamente não achava que era certo Maggie ficar gastando todos os seus Carinhos Quentes com as crianças e outra gente. Começou a se queixar toda vez que via Maggie dar um Carinho Quente a outra pessoa, e pelo fato de Maggie gostar muito dele parou de dar Carinhos Quentes para as outras pessoas, reservando-os para Tim.

As crianças viram isso e logo começaram a ter a ideia de que era errado ficar dando Carinhos Quentes toda vez que alguém pedia, ou sentissem vontade de dar. Elas também ficaram muito cuidadosas. Prestavam atenção nos pais, e sempre que percebiam que um dos pais estava dando Carinho demais para outros, também começavam a protestar. Elas também estavam ficando preocupadas em não desperdiçar os Carinhos Quentes. Mesmo que sempre encontrassem Carinhos Quentes toda vez que punham a mão na sacola, enfiavam a mão cada vez menos, e foram ficando cada vez mais mesquinhas. Logo as pessoas começaram a perceber a falta de Carinhos Quentes, e começaram a se sentir menos quentes e menos acarinhadas. Começaram a murchar e às vezes alguma pessoa morria por falta de Carinhos Quentes. Cada vez mais gente ia a bruxa para comprar poções e unguentos, mesmo que estes não parecessem funcionar.

Bem, a situação estava ficando muito séria mesmo. A bruxa má que estava vendo tudo isso não queria realmente que as pessoas morressem (já que as pessoas mortas não podiam comprar suas poções e unguentos), assim inventou um novo plano. Todo mundo ganhou um saquinho que era parecido com o Saco de Carinhos, a diferença que esse saco era frio enquanto o saco de Carinhos era quente. Dentro do saquinho da bruxa havia Espinhos Frios. Estes Espinhos Frios não faziam as pessoas se sentirem quentes e acariciadas, mas em vez disso fazia com que elas se sentissem frias e espetadas. Porém, evitava que as costas das pessoas murchassem. Assim, daí por diante, sempre que alguém dizia “Eu quero um Carinho Quente”, as pessoas, que tinham medo de acabar com seu suprimento diziam: “Não posso lhe dar um Carinho Quente, mas você quer um Espinho Frio”? Às vezes, duas pessoas iam uma de encontro a outra, achando que podiam conseguir um Carinho Quente, mas um deles sempre mudava de opinião e acabava dando ao outro Espinhos Frios. Então, o resultado final foi que enquanto algumas pessoas estavam morrendo, muitas delas estavam infelizes e se sentiam frias e espetadas.

A situação ficou muito complicada porque desde a vinda da bruxa, havia cada vez menos Carinhos Quentes para se achar; assim, os Carinhos Quentes que antes eram julgados grátis como o ar, ficaram extremamente valiosos. Isso fez que as pessoas fizessem todo o tipo de coisas para consegui-los. Antes da bruxa chegar, as pessoas costumavam se reunir em grupos de três, quatro ou cinco, nunca se preocupando muito com quem estava dando Carinhos Quentes para quem. Depois que a bruxa apareceu, as pessoas começaram a se juntar em pares, e reservar todos os seus Carinhos Quentes exclusivamente para a outra do par. As pessoas se esqueciam e davam algum Carinho Quente para a outra pessoa, imediatamente se sentiam culpadas, porque sabiam que provavelmente seu parceiro ia se aborrecer com a perda de um Carinho Quente. Pessoas que não conseguiam encontrar parceiros generosos precisavam comprar seus Carinhos Quentes, e precisavam trabalhar muitas horas para conseguir o dinheiro.

Algumas pessoas, de algum jeito, se tornavam “populares” e recebiam uma porção de Carinhos Quentes, sem terem que retribuí-los. Estas pessoas então vendiam estes Carinhos Quentes para gente que era “impopular” e que precisava deles para sobreviver.

Outra coisa que aconteceu foi que algumas pessoas pegaram os Espinhos Frios, que eram ilimitados e de graça, os cobriam com uma cobertura branquinha e estufada, e passaram-nos como se fossem Carinhos Quentes. Esses Carinhos Quentes falsificados eram na verdade Carinhos Plásticos, e causavam mais dificuldades. Por exemplo, duas pessoas se juntavam e trocavam livremente os seus Carinhos Plásticos, e isso presumivelmente devia fazer que elas se sentissem bem, mas elas acabavam se sentindo mal. E já que pensavam que tinham estado trocando Carinhos Quentes, essas pessoas ficavam muito confusas com isso, e não percebiam que esses sentimentos de espetadas frias eram o resultado de eles terem trocado Carinhos Plásticos.

Então a situação ficou muito grave, e tinha começado com a vinda da bruxa que tinha feito as pessoas acreditarem que algum dia, quando menos esperassem, poderiam enfiar a mão no Saco de Carinhos Quentes, e não encontrar mais nenhum. Não faz muito tempo, uma mulher com grandes quadris, nascida sob o signo de Aquário, chegou a essa terra infeliz. Ela parecia não ter ouvido falar da bruxa malvada, e não se preocupava que os Carinhos Quentes acabassem. Ela os dava de graça, mesmo quando não eram pedidos. Eles a chamaram de Mulher dos Quadris (Hip Woman) e a desaprovaram porque ela dava para as crianças a ideia de que não deveriam se preocupar com que os Carinhos Quentes terminassem. As crianças gostaram muito dela, porque se sentiam bem perto dela, e passaram a dar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade.

Os adultos ficaram muito preocupados e decidiram impor uma lei para proteger as crianças do desperdício de seus suprimentos de Carinhos Quentes. A lei dizia que era crime distribuir Carinhos Quentes de maneira descuidada, sem uma licença. Muitas crianças, porém, não pareceram se preocupar; apesar da lei, continuaram a trocar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade e sempre que alguém pedia. Pelo fato de existirem muitas, muitas crianças quase tantas quantos adultos, parecia que talvez eles conseguiriam seguir o seu caminho. E agora é difícil dizer o que vai acontecer. As forças da lei e da ordem dos adultos forçarão as crianças a parar com sua imprudência? Os adultos se juntarão à mulher dos Quadris e às crianças, achando que sempre haverá tantos Carinhos Quentes quantos forem necessários? Lembrar-se-ão dos dias que seus filhos querem fazer voltar, dias em que os Carinhos Quentes eram abundantes porque eram distribuídos livremente”?

Este conto de Steiner está recheado de metáforas as quais são encontradas no nosso cotidiano, quando paramos para pensar na forma que vivemos e a forma como o nosso entorno vive, não raro identificamos o exposto acima. Não vamos reduzir o sofrimento de ter um corpo deformado pela gordura, apenas a falta de dar e receber carinho, sem dúvida são muitos os fatores que contribuem à obesidade ou mesmo a dificuldade para manter um corpo magro. Aqui se pretendeu, salientar o que a falta do afeto, em muito, pode contribuir para a ingesta, sem controle do alimentos.

Nosso engano, quando substituímos fontes nutricionais reais por aquelas falsificadas que o mundo nos afirma que irão nutrir, aja vista, toda a oferta por alimentos rápidos, carregados de condimentos e em belas embalagens, prometendo um sabor capaz de aliviar qualquer desconforto que possamos estar vivenciando, e assim nos deixando levar por apelações falsas e, não raro, lucrativas de outrem. Por outro lado, não esquecendo que qualquer comemoração é rodeada por quitutes e uma simples reunião, mesmo de negócios, será de mal tom não ter biscoitos e tortas para receber nosso convidado.

Vivemos, via de regra, sobre a égide fria de um olhar que não consegue enxergar a saída, nossos muros de “proteção”, foram erigidos de tal forma, que não permitem o fluir de nossas consciências, no intento de expandirem-se buscando a maestria da sabedoria interior, capaz de curar nossos males.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não acredito que falar sobre transtornos alimentares, seja tarefa simples. A compulsão por alimentos data desde os primórdios da civilização. Se nos reportarmos à civilização Romana “o empanzinamento “comer demais até passar mal” já estava instalado, ditando o sofrimento que é "não ter controle sobre a ingesta alimentar”. Naquela época costumavam construir lugares especiais dentro das casas para que as pessoas após comerem e beberem até passar mal, pudessem longe da reunião fazer voltar o que seus corpos não suportavam ter ingerido.

O primeiro movimento após o nascimento, depois de exames de rotinas médicas que o ser humano é envolvido no ato de nascer é comer, ser alimentado faz parte da preocupação daqueles que recebem o ser no início da vida. É muito difícil, desassociar o alimento do fato de nos mantermos vivos, sem dúvida ele mantém a vida, mas ele também mata quando não existe o controle sobre ele. Se o mesmo é fundamental nos primeiros minutos da vida, com igual importância está o olhar de quem segurou o bebê, o calor que este sentiu com o abraço da mãe, tudo que ouviu de elogios a sua chegada, por todos que lhe receberam e o acompanharam no momento sublime do ato de nascer.

Este tema também não se restringe as questões emocionais, pois também passa por distúrbios físicos, a exemplo dos glandulares e outros, o curioso é que com todo o avanço da ciência o homem ainda é acometido por este mal tão antigo e que se mostra resistente à cura, até porque ele vem ligado fortemente a sobrevivência do homem, que confunde comer para sobrevir, com viver para comer. Na presença das dietas restritivas é comum no início da dieta, não emagrecer nenhuma grama, o cérebro em, situações como estas pode entender e convocar o corpo a se comportar como estando numa guerra, onde é comum faltar alimentos para sobreviver, desta forma passando a manter o suprimento existente no corpo desta pessoa.

O apelo ao alimento está presente em tudo o que fazemos, desde simples reuniões, onde não pode faltar água, café e biscoitos, até os jantares e almoços apresentados de forma farta, sendo que em algumas culturas, soma-se ao fato que é feio comer pouco. Não podemos esquecer os meios de comunicação que oferecem todo tipo de alimentos em coloridos comerciais apelativos envolvendo, crianças e situações afetivas e prazerosas, tornando-se reforçadores de hábitos adquiridos.

Repetir que é importante a força de vontade, parece tão antigo como o próprio mal, é muito mais do que força de vontade, implica em coragem, determinação, foco, persistência e fé. Esta última o velho e bom ditado já diz, “move montanha”. A fé em si mesmo, a espiritualidade e não nos referimos aqui a nenhuma religião e, sim, o conhecimento sobre si mesmo, o interior que possui medos, angustias, depressão e crenças arraigadas, pode ser um caminho que oferece ao indivíduo ferramentas poderosas para a construção de novas maneiras de pensar e se comportar frente à alimentação, podendo, desta forma desconstituir aspectos negativos que formaram hábitos viciados. Quando nos reconhecemos, podemos reconhecer o outro e desta forma mudar o que nos causa dor.

Bibliografias.

  • Cury, Augusto – Nunca desista de seus sonhos. Ed. Sextante. 2004. Rio de Janeiro – RJ.
  • Garcia, Luiz Fernando – O cérebro de Alta Performance – Como orientar, seu cérebro para resultados e aproveitar todo o seu potencial de realização – Ed. Gente 2013 – São Paulo – Sp.
  • Steiner, Claude – Os papeis que vivemos na vida. Ed. Arte nova, São Cristóvão – RJ. 1974
  • Beck, Judith. Pense Magro: a dieta definitiva de Beck. Porto Alegre: Artmed, 2009.
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