É fato que vivemos momentos, difíceis não só na área da saúde, mas na sociedade como um todo. Nossas emoções, juntamente com o momento econômico, político estão profundamente abalados e ninguém parece se entender mais. Somos bombardeados com notícias as mais variadas ao longo do dia. Desfila na nossa frente, noticiários sobre morte, perdas, brigas políticas, câmeras frigoríficas para que corpos sejam mantidos, perigos na economia e ameaça constante ao salário e consequente perda do patrimônio e poder aquisitivo. Muitas vezes, se faz necessário filtrar estas informações, até para sabermos sobre a veracidade das mesmas, ou se estão a serviço de interesses escusos.
Em meio a este cenário nos vemos diante da tomada de decisões muito difíceis, em relação ao trabalho, a condução da vida como um todo, a saúde e a suprema escolha por nos mantermos vivos. A presença do vírus dita o distanciamento social, bem como, autoridades políticas e a OMS aí estão exigindo a reclusão como forma de proteção a contaminação, enquanto aguardamos a vacina para a doença do COVID-19.
Então, tudo se projeta para o amanhã, o depois, o futuro, um dia, num tempo que não é determinado seu término, por consequência projetar ou viver no futuro nos torna muito mais ansiosos. Concomitante, precisamos enfrentar o momento atual para reorganizar nossa forma de viver.
Se vivemos sozinhos, isto exigirá coragem para estar sem a presença do outro, sem a troca e diante de nós mesmos, tendo que enfrentar nossa solidão. Se estamos em família, enclausurados, muitas vezes, em pequenos apartamentos, falta espaço físico e emocional para analisar os conflitos que surgem nas relações familiares que via de regra, com a ida diária ao trabalho ou outra situação, ajudam a dirimir os entraves relacionais.
Neste contexto de confinamento e suas demandas, dúvidas, incertezas e medos podemos tomar caminhos equivocados para lidar com toda a gama de situações controversas e sentimentos os mais variados e um desses caminhos poderá ser o consumo indiscriminado do uso do álcool, ou porque o indivíduo já sofre com o vício, ou o que é pior, para se anestesiar do que está sentindo e sem a consciência do que poderá fazer com seus sentimentos, criando o hábito do uso indevido e por consequência a dependência por substâncias alcoólicas.
Ainda, conforme o G1 de 15 de abril de 2020 a OMS solicita a governos que limitem o acesso a bebidas alcoólicas durante pandemia do novo corona vírus. Em comunicado, a organização alerta que o abuso do álcool aumenta a violência e riscos à saúde para pessoas em isolamento ou quarentena.
O álcool num primeiro momento, traz euforia, desinibição e a sensação do alivio para a ansiedade, estresse, angustia, depressão, sentimentos difíceis de lidar e, muitas vezes, identificar. Neste contexto a substancia alcoólica atua como um desinibidor e ponte de suposto bem estar. Alcoolizado o indivíduo e metaforicamente feliz.
O álcool, pode servir como companhia para pessoas solitárias que acreditam serem incapazes para estar com outras pessoas, ou mesmo dificuldades para manterem vínculos, o que é bastante comum em famílias onde o indivíduo lança mão do uso do álcool como forma de amenizar questões prementes de respostas adequadas a manutenção dos vínculos. Em que pese, dentro de um contexto familiar disruptivo onde, a agressão ao companheiro se faz numa rotina perversa, somando-se ao momento presente, onde a reclusão é obrigatória. Desta forma colaborando com a compulsão a bebida e tornando o uso efetivo.
O uso prolongado e excessivo do álcool pode levar a dependência, situação difícil de tratar. Também expõe o usuário a quadros depressivos que, via de regra, vão gerar danos à saúde mental e física do indivíduo. Ainda salienta-se que uma pessoa deprimida torna-se vulnerável, pois tem seu sistema imunológico diminuído e com isto uma porta aberta para doenças de várias espécies, dentre elas a possibilidade da infecção pelo Coronavírus, desenvolvendo o COVID-19.
Sem dúvida vivemos uma crise inédita, nunca antes vivida, necessário então, ficarmos atentos para o uso do álcool como forma de amenizar os entraves que se apresentam e pedem soluções a curto e médio prazo para minimizar problemas que estão batendo a nossa porta e não dizem respeito somente a área da saúde. A crise se amplia pela área econômica, oferecendo riscos à saúde financeira, desta forma, afetando a sobrevivência. O homem para que sobreviva necessita da tríade que passa pela saúde física, emocional e financeira.
Comparamos aqui o uso do álcool a uma sereia cujo canto encanta e vicia a todos, o seu uso leva a situações caóticas de desespero, destruição, abuso, aniquilamento e muitas vezes sem a possibilidade de retomar o que foi perdido. Diante de todo o mal e catástrofe que o álcool proporciona, há que considerar a quarentena, o afastamento social que são gatilhos para o vício e o pretexto para mantê-lo. Ainda é importante lembrar que o pós quarentena vai demandar em construção ou reconstrução de vários aspectos da vida econômica e financeira e que se estiverem atrelados a uma dependência ao uso do álcool a situação poderá ficar bem pior.